Soul Meets Body foi uma música que descobri através da trilha sonora de um desses filmes que a gente clica aleatoriamente na Netflix, só para passar o tempo. Eu não lembro muito do filme, sendo bem sincera, mas eu lembro claramente dessa música, que me levou a voltar a cena na qual ela tocava algumas boas vezes, não só para apreciar, mas também, na falta de um Shazam, conseguir pegar a letra e pesquisá-la no pai Google, a fim de dar um nome àquela melodia maravilhosa que eu estava ouvindo. Desde então, Soul Meets Body virou um achado que guardo com muito carinho e vira e mexe retorna à minha playlist. Eu adoro a letra, adoro a harmonia da música, o clipe também tem algumas ideias interessantes, portanto, resolvi compartilhar algumas das reflexões que ela me provoca por aqui.
De forma geral, pra mim, Soul Meets Body fala sobre finalizações de ciclos, sobre o desejo de se renovar, se reencontrar após tempos difíceis, deixando pra trás tudo o que não te serve mais e só faz pesar. Porém, ao mesmo tempo, sobre a vontade de tornar alguns pontos finais, pontos de continuação. Ou seja, lutar por algo que ainda vê sentido em permanecer, manter aquilo que durante a jornada te fez mais leve e te ajudou, e ainda ajuda, a voar (as melodias que pairam suaves em nossas atmosferas). Mas, vamos por partes...
Obs: deixei a letra em sua língua original, mas você pode ler a tradução bem AQUI.
I want to live where soul meets body
And let the sun wrap its arms around me
And bathe my skin in water cool and cleansing
And feel, feel what it's like to be new
A letra já começa mostrando uma busca por paz, por se sentir bem, inteiro, alinhado consigo mesmo, uma busca por ser verdadeiramente quem se é, de corpo e alma. Sem nada a esconder, pleno e realizado (a ideia do Sol, de essência), livre de qualquer dúvida, arrependimento, angústia, marcas que pesam (banha-se em uma água boa e limpa, para lavar tudo isso e restar, assim, apenas clareza e purificação). O que leva a sensação de sentir-se "novo", renascido, pronto para a próxima. Para novas experiências, novos ciclos. Agora, mais maduro, com mais lições aprendidas, com mais sabedoria e conhecimentos acumulados do que no passado.
Cause in my head there's a Greyhound station
Where I send my thoughts to far-off destinations
So they may have a chance of finding a place
Where they're far more suited than here
Essa parte me lembra muito o trecho de um escrito meu:
"Eu vou espalhar arte pelo caminho
Semente, árvore, ninho
Que o que é aprendido não tem força
Se não fornece a outrem abrigo"
Uma das etapas mais importantes para nossa evolução (individual e coletiva) são as trocas, conhecimentos compartilhados, perspectivas diferentes sobre um mesmo assunto trazendo expansão de ideias, soluções de problemas que bastavam essa simples mudança de ângulo para serem resolvidos... As trocas catalisam nosso crescimento! E estas têm sido cada vez mais proporcionadas por essa "estação rodoviária", os avanços tecnológicos que nos interligam, permitem conexões entre vários locais distintos, tornando tudo mais acessível.
And I cannot guess what we'll discover
When we turn the dirt with our palms cupped like shovels
But I know our filthy hands can wash one another's
And not one speck will remain
Aqui, é ratificada a vontade de buscar paz e clareza, de deixar para trás o que faz mal, e como os relacionamentos, o apoio mútuo, fazem a diferença nesse processo de mudança e cura. Sabendo que, para haver a limpeza, a renovação tão almejada referida lá na primeira estrofe, é preciso encarar a sujeira, é preciso remexer mesmo, revirar, cavar, que nem uma escavadeira faz com a terra, esta qual é onde se fincam as raízes (cernes das questões), para entender as causas, ver onde estão todos os cortes, os machucados e, assim, diagnosticar o que precisa ser limpado, cuidado e curado. Se não olha pra tuas sombras, se não percebe suas feridas, elas não deixam de estar lá, pelo contrário, infeccionam mais ainda, tornam-se mais profundas, começam a desencadear reações secundárias (como quando o desempenho no trabalho começa a diminuir, porque a pessoa não resolve algo que lhe incomoda num relacionamento pessoal) e assim por diante. Para curar a doença, é preciso conhecê-la, é preciso encarar o problema de frente.
And I do believe it's true that there are roads left in both of our shoes
But if the silence takes you then I hope it takes me too
So brown eyes I'll hold you near cause you're the only song I want to hear
A melody softly soaring through my atmosphere
Aqui entende-se, então, que, além de si mesmo, também se quer curar um relacionamento íntimo (e são nestes que ocorrem as trocas mais marcantes, mais profundas e que mais nos ajudam a evoluir). Essa descoberta, de que se trata de um relacionamento específico (um ponto de virada que adoro na música), já dá um significado a mais para os versos anteriores, nos quais ele (o eu lírico) cita que sabe que suas mãos podem lavar uma a outra e não sobrará nenhuma mancha. Se trata da esperança de que se as duas pessoas colocarem a "mão na massa" pela relação, se comprometerem a trabalharem juntas(!) - porque toda relação é uma via de mão dupla e é importante que a troca, o dar e receber seja equivalente -, dá pra fazer essa cura acontecer. Pois ainda há sentido, ainda é possível enxergar futuro na relação (ainda há estrada para os sapatos deles). E, por isso, ele se agarra a pessoa, luta por ela, para mantê-la em sua vida. Porque ainda quer ouvi-la, ainda a aprecia, porque é uma relação que o faz sentir-se leve (paira suave através da atmosfera). Mesmo após as turbulências pelas quais passaram, o relacionamento continua sendo algo no qual se quer investir. No entanto, sabe que isso não depende apenas dele, que se a outra pessoa decidir que não vale mais à pena pôr o esforço, escolhendo deixar o silêncio levá-la, ele vai respeitar sua decisão e esperar conseguir seguir em frente também.
Where soul meets body
Where soul meets body
Where soul meets body
And I do believe it's true that there are roads left in both of our shoes
But if the silence takes you then I hope it takes me too
So brown eyes I'll hold you near cause you're the only song I want to hear
A melody softly soaring through my atmosphere
A melody softly soaring through my atmosphere
A melody softly soaring through my atmosphere
A melody softly soaring through my atmosphere
Quanto ao clipe, ele já começa com imagens da natureza (mais uma vez a essência, a espontaneidade de simplesmente ser, o desejo de alcançar essa plenitude), mas o que mais me chama a atenção, logo no início, é uma teia de aranha, que já traz a ideia das conexões, como estamos todos interligados e como, juntos, podemos criar coisas incríveis, indicando o quanto as relações e trocas nos tornam mais fortes. Logo em seguida, notas musicais começam a brotar dessa mesma natureza (as ideias, a criatividade, a própria arte, sendo coisas que vêm naturalmente, do âmago, são orgânicas, não dá para serem forçadas), e, após "nascerem", começam a flutuar, são leves e viajam para vários lugares. Já foi compartilhado, não dá para saber quais serão seus destinos, como serão recebidas, mas elas voam. E isso me remeteu muito a correr riscos, ter coragem de compartilhar suas ideias, de falar, não deixar de fazer sua arte, de mostrar sua voz, mesmo sabendo que não dá pra agradar a todos, não dá pra só passar por coisas boas, mas de peito aberto para o que der e vier. Não é toda relação que vai frutificar, não é todo projeto que vai dar certo, não é toda situação que vai ser boa, mas eu pago pra ver, eu me coloco no mundo e estou em paz com as minhas escolhas e tudo bem se nem sempre derem certo, faz parte da vida passar por dificuldades mesmo. Então, sim, algumas notas musicais não têm um destino muito bom, no entanto, muitas outras continuam flutuando, passando por paisagens incríveis, permanecendo vivas. Sobreviveram a tudo no final (como o sentimento de esperança quanto ao relacionamento). É como se dissesse: o que foi ruim já passou, morreu, ficou somente lição, mas isso aqui continuou vivo. Apesar de todas as intempéries, continuou vivo! Isso eu quero continuar guardando, quero continuar lutando por. Isso ainda tem um mar de possibilidades pela frente...
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